Pós-Graduação em Zootecnia da UFV celebra 60 anos de história e excelência
“Antes, gostaria de, em sucinta retrospectiva, relembrar-lhes que desde a sua fundação, a nossa instituição preocupou-se com a excelência”. Com essas palavras, o professor José Antônio Obeid abriu um discurso emocionante sobre os 60 anos da pós-graduação do Departamento de Zootecnia da UFV, celebrados na última sexta, dia 09/12. Tal evento contou com a presença do corpo docente atual do departamento, além de professores aposentados, técnicos, servidores e alunos.
O sexagenário do programa marca uma história de grandes conquistas que se mesclam com a história da própria Universidade Federal de Viçosa, ainda nos dias da ESAV. Afinal, a UFV é pioneira no Brasil em cursos de Pós-Graduação e, em relação aos cursos de pós-graduação em Zootecnia, é a pioneira na América Latina, representando a tradição e a seriedade com que a Comunidade Ufveana trata seus programas de ensino, pesquisa e extensão. Na avaliação do CAPES, o programa é um dos poucos do Brasil a ter nota máxima.
Confira, na íntegra, o rico discurso do professor José Obeid – peça fundamental na história do PPG-DZO, e que conta um pouco sobre a formação do programa:
” Não sei por que, também, me escolheram para falar sobre a história da ESAV e a pós-graduação no DZO, que foi a primeira na área de Zootecnia na América do Sul: os professores José Brandão Fonseca, José Fernando Coelho da Silva, Dirceu Jorge e Rasmo Garcia (de sua primeira turma), são testemunhas mais fidedignas dos acontecimentos que eu.
Antes, gostaria de, em sucinta retrospectiva, relembrar-lhes que desde a sua fundação, a nossa instituição preocupou-se com a excelência. Para dirigi-la, seu criador buscou, primeiro, um professor de Cornell, que idoso, teve receios de não poder concluir a empreitada. O Rolfs de Gainesville, Flórida, novo, PhD em 1920, assumiu e deu conta do recado.
Com a saída do Rolfs, entrou na direção o Engenheiro João Carlos Bello Lisboa que a edificou, logo após construir as duas primeiras pontes de Ponte Nova, que resistem bravamente por quase um século, às cheias do Piranga.
Em primeiro de agosto de 1927, com sete professores (Rolfs, Bello Lisboa, Diogo Mello, Francisco Horta, Nelson Lelis, Octávio do Espírito Santo e Herman Hehaag), teve início, por Diogo Melo, a primeira aula do curso médio de agricultura na ESAV. O professor Diogo havia feito o curso secundário nos EUA e em 1922 concluiu seu bacharelado em Agronomia na universidade do Missouri, indo, em seguida, atuar no magistério no estado do Kansas. Já em maio de 1928, é ministrada a primeira aula do curso superior de agricultura pelo professor catedrático, Dr. Hermam Hehaag de origem alemã (Prússia) que havia sido professor da Escola Superior de Agricultura de Olinda, Pernambuco, por 8 anos.
Também em 1927, foi criado o Departamento de Zootecnia sob a direção do Herman, tendo como seu professor auxiliar, Nelson Lelis. Em 1929, chega contratado para chefiar o Departamento, o professor Ph.D. Dr. Albert Oliver Rhoad, originário de Cornell. Em 1936, assume a Diretoria da ESAV o Professor John Benjamim Grifft, da universidade do sudoeste da Califórnia, dando início a um programa mais organizado de envio de docentes para a pós-graduação no exterior! Os primeiros a sair se dirigiram para o Iowa. O professor Geraldo Gonçalves Carneiro, da Zootecnia, para o melhoramento animal e o Antônio Secundino de São José, da agronomia, para o melhoramento vegetal.
Em 1939, o DZO, já mais estruturado, tinha como professores: Geraldo Gonçalves Carneiro, Joaquim Matoso, Alfred Beck Andersen e Joaquim Fernandes Braga, este, futuro reitor da UREMG. O professor Matoso ingressou no DZO em 1939 e em 1943, passou para a chefia do mesmo. Em fins de 1950, ele concluiu seu mestrado na universidade de Louisiania e, em 1951 foi nomeado pelo Governador, diretor da ESA. Sou antigo na casa. Destes, tive o privilégio de ser aluno dos três primeiros. Em 1972, como aluno de sua pós-graduação no programa de MSc., fui testemunha ocular apenas do nascimento dela, a nível de Doutorado. Tentarei não decepcioná-los ao rememorar os fatos.
A necessidade de preparar profissionais de ponta para um Brasil que a demandava e o número de professores já qualificados levaram o DZO a planejar e iniciar a pós-graduação na UREMG de 1962. O time foi reforçado por uns 4 professores de Purdue os quais conheci e, inclusive, fui aluno e tive como conselheiro O Elsworth P. Cristhmas. Ao que me consta, é vivo até hoje e em 2019, atuava como professor emérito de Purdue, coordenando a organização de um museu de máquinas e implementos agrícolas na universidade. Para reforçar o time no Doutorado, agregou-se ao grupo outro professor de Purdue, o Joseph Conrad. Comunicativo, apresentou-se no primeiro dia de aula sobre “Os minerais e seu metabolismo”: meu nome é Joseph Conrad, mas podem me chamar de José Conrrado. Era bom comunicador!
O pessoal do DZO se esforçava para nos proporcionar o que de melhor existia em conhecimento. Assim, lembro-me de alguns como J. L. Lush – Melhoramento (Iowa), Geraldo Carneiro- Melhoramento (à época, aposentado da UREMG e em São Carlos-SP), Carneiro Viana- Nutrição (UFMG), Noller- Nutrição (Purdue), Megalle – Fisiologia da Reprodução (UFMG) e outros que não retive na memória.
A escolha pelo convênio com Purdue, certamente deveu-se, em parte, ao fato de que alguns dos mestres e doutores da UREMG de até 1962, terem origem nesta Universidade de médio porte e de ideologia parecida com a nossa UREMG. Purdue manteve aqui, por uns 10 anos, um grupo de mais de uma dúzia de professores a auxiliarem na pós-graduação em fitotecnia e logo a seguir, em Zootecnia. Lembro que a soja já era experimentada no Brasil e no departamento de fitotecnia, na década de 60, pelo professor Kirk Athow, mais tarde, orientador do professor Tuneo Sediyama, no doutorado em Purdue.
Cumpre-me relatar as palavras do professor Vernon Ruttan, de Purdue, citado por G. E. Schuh: “Purdue foi a única experiência do programa de transferência de conhecimento e tecnologia para países em desenvolvimento, que conseguiu exportar a ideologia das universidades agrárias americanas, a dos “Land Grand Colleges”, com pleno sucesso. Segundo o professor José Brandão Fonseca, as outras universidades/escolas contempladas e apoiadas por outras congêneres americanas, foram as de Piracicaba, UFRGS e UFPE.
Como Viçosa, Purdue também teve um idealizador. Ela começou diferenciada desde a sua fundação, quando em 1864, Jonh Purdue doou ao estado de Indiana a sua fazenda às margens do rio Wabash e a importância atualizada de 3,1 milhões de dólares para que fosse criada uma universidade, que levasse o seu nome, que o tivesse como membro vitalício do seu Conselho de Administração e que se dedicasse às áreas de agrárias, engenharias e artes militares. A partir de 1925, e por 50 anos Purdue teve o maior número de estudantes matriculados em engenharia nos EUA. Hoje, o orçamento de Purdue é algo como 5,6 bilhões de dólares mostrando, a sua potência em ensino como universidade de médio porte e na casa dos 40 mil alunos.
Sobre o restante da história e o brilhante futuro do Departamento de Zootecnia e de sua pós-graduação, vocês, mais novos no DZO, sabem e podem contar melhor que eu. Obrigado por me ouvirem.”